quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

do p.A. Vieira-pretensão de ofícios.

"..que em todo o reino bem governado não devem os homens pretender os ofícios, senão os ofícios pretender os homens.Porque andarão mais autorizados os ofícios; porque viverão mais descansados os beneméritos; porque estará mais desemgaraçada a corte; porque será mais ben servida a república."

do p.A.Vieira

"Digo politicamente que nas acções se hão-de fundar as eleições; digo espiritualmente, que nas acções se devem segurar as predestinações. As eleições ordinariamente fundam-se nas gerações e por isso acertam tão poucas vezes. Não nego que a nobreza, quando está junta com talento, deve sempre preceder a tudo; mas como os talentos Deus é O que os dá e não os pais, não se devem fundar as eleições nas gerações, senão nas acções."

do p. A.Vieira - A fidalguia

"Digo pois, que a chamada fidalguia não é somente qualidade, nem somente sangue; mas é de todos os predicamentos e de todos os quatro humores. Há fidalguia que é sangue e por isso há tantos sanguinolentos; há fidalguia que é melancolia, e por isso há tantos descontentes; há fidalguia que é cólera e por isso há tantos malsofridos e insofríveis; e há fidalguia qque é fleuma, e por isso há tantos que prestam para tão pouco. De maneira, que os que adoecem de fidalguia, não só lhes peca e enfermidade no sangue, senão em todos os quatro humores. O mesmo se passa nos dez predicamentos.Há fidalguia que è sustância, porque alguns não têm mais sustância que a sua fidalguia; há fidalguia que é quantidade : são fidalgos porque têm muito de seu; hà fidalguia que é qualidade, porque muitos, não se pode negar, são muito qualificados; há fidalguia que é relação: são fidalgos por certos respeitos; há fidalguia que é paixão: são apaixonados de fidalguia; há fidalguia que é "ubi": são fidalgos, porque ocupam grandes lugares; há fidalguia que é sítio e desta casta é a dos títulos, que estão assentados e os outros em pé; há fidalguia que é hábito: são fidalgos porque andam mais bem vestidos; há fidalguia que é duração: fidalgos por antiguidade. E qual destas é a verdadeira fidalguia? Nenhuma. A verdadeira fidalguia é acção. Ao predicamento da acção é que pertence a verdadeira fidalguia: as acções generosas e não os pais ilustres, são as que fazem fidalgos.Cada um é suas acções e não é mais nem menos."

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

"Vós quem sois"-do p.A.Vieira

"Vós quem sois e vós quem dizeis que sois; porque os homens quando testemunham de si mesmos, uma cousa é o que são e outra cousa é o que dizem. Ninguem há neste mundo que se descreva com a sua definição: todos se enganam no género e também nas diferenças.Que diferentes cousas são ordinariamente o que dizeis de vós e o que sois? E o pior é que muitas vezes não são cousas diferentes: porque o que sois é nenhuma cousa e o que dizeis são infinitas cousas. Nesta matéria de "vós quem sois", todo o homem mente duas vezes; uma vez mente-se a si e outra vez mente-nos a nós: mente-se a si, porque sempre cuida mais do que é; e mente-nos a nós porque sempre diz mais do que cuida".

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

do.p.a. Vieira

"Deus julga como juiz; os homens julgam como judiciários; entre o juiz e o judiciário há esta diferença, que o juiz supõe o caso, o judiciário aivinha-o. Quantos vemos hoje julgados e oondenados por adivinhação, não pelo que fizeram, senão pelo que se adivinha que haverão de fazer".

"Deus julga a cada um pelo que é, os homens julgam a cada pelo que são.Mais claro.Deus julga-nos a nós por nós; os homens julgam-nos a nós por si.Donde se segue que que para seres bem julgado no juizo de Deus,basta que vós sejais bom; mas para seres bem julgado no juizo dos homens, é necessário que ninguem seja mau.Terrível juizo, em que para eu não sair condenado, é necessário que todo o mundo seja inocente !

do p. A. Vieira

"Um grande delito muitas vezes achou piedade; um grande merecimento nunca lhe faltou inveja. Bem se vê hoje no mundo: os delitos com carta de seguro, os merecimentos homiziados"

"Porque não há cousa de que mais se escandalizem os homens, que de haver quem faça milagres. Antigamente escandalizavam os pecados e edificavam as virtudes; hoje as virtudes escandalizam e queira Deus que os pecados não edifiquem ".

" Nem com os reis, nem com os santos, nem com Deus se pode tratar sem ser mal julgado dos homens.Tão injusto é o juizo humano en interpretar intenções; tão atrevido e tão temerário é em julgar pelas obras os pensamentos!"

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ver os corações - do p.A.Vieira

-"Os homens vêem só os exteriores, porém Deus penetra os corações: antes por isso mesmo é muio mais para temer o juizo dos homens; se os honens conheceram os corações, se aos homens se lhes pudera dar com o coração na cara, então não havia que temer seus juizos. Que maior descanso e que maior segurança, que trazer um homem sempre consigo no seu coração a sua defesa? Acusais-me, condenais-me, infamais-me; quereis mil testemunhas, pois ei-las aqui e mostrar-lhes o coração: "Bona conscientia mille testes". Sabeis vós para quem não era boa invenção a de os homens verem os corações? Para os traidores, para os hipócritas, para os lisonjeiros, para os mentirosos e para outra gente desta ralé; mas para os zelosos, para os verdadeiroa, para os honrados, para os homens de bem, oh que grande costume, oh que grande felicidade fora! Mas como a consciência no juizo humano não vale testemunha, quem leva a calúnia nas obras, que importa que tenha as defesas no coração?"

domingo, 27 de dezembro de 2009

do p.A.Vieira

-"Para um juizo perfeito requerem-setrês cousas : ciência para examinar,justiça para julgar, poder para executar."
-"...porque o dar , para que se agradeça, há-de proceder da vontade: e o condenar para que se não erre, há-de regular o entendimento."
-"Pois por isso o dar se atribue à terceira pessoa e o julgar à segunda: porque o dar há-de ser da vontade, mas com suposição do entendimento; o julgar há-de ser só do entendimento sem intervenção nenhuma da vontade. Eis aqui um perfeito ditame da justiça punitiva e distributiva. O condenar só por entendimento, sem vontade; o dar mui por vontade, mas com entendimento. E seria bem que o dar fosse só por entendimento e que no condenar entrasse também a vontade? Não, porque daí nasceria o que acontece algumas vezes, que nem as mercês obrigam, nem os castigos emendam. Condenar com vontade, é passar além de justo; dar sem vontade é ficar aquem de liberal; no primeiro vai escrupulosa a justiça, no segundo fica desairosa a liberalidade."

sábado, 26 de dezembro de 2009

Julgar com o entendimento ou com a vontade

-"Quem julga com o entendimento , pode julgar bem e pode julgar mal; quem julga com, a vontade numca pode julgar bem. A razão é muito clara.Porque quem julga com o entendimento, se entende mal, julga mal, se entende bem, julga bem. Porque quem julga com o entendimento, se entende mal, julga mal, se entende bem, julga bem. Porém quem julga com a vontade ou queira mal, ou queira bem, sempre julga mal; se quer mal julga como apaixonado, se quer bem, julga como cego. Ou cegeira ou paixão,vede como julgará a vontade com tais adjuntos." (p.António Vieira)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O que enterrou o talento

"Todo o talento é arriscado a se perder ou não dar boa conta dele a presunção humana. Os maiores pela soberba, os menores pela inveja e os mínimos pela desesperação e pusilanimidade. Da casta destes últimos foi o que enterrou o talento, podendo ser melhor e mais celebrado que todos se o não enterrara".

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

do p.A.Vieira

-"Só uma cousa há que não pode passar, porque o que nunca foi, não pode deixar de ser e tais parece que foram as fábulas que neste mesmo tempo se inventaram e fingiram. Mas se elas não passaram em si mesmas, passaram naqueles casos e cousas que deram ocasião a se fingirem. Na seca universal que abrasou todo o mundo, passou a fábula de Faetonte; no dilúvio particular que inundou grande parte dele, passou a fábula de Deucalião; no estudo com que el-rei Atlante contemplava o curso e movimento das estrelas, passou a fábula de trazer o céu aos ombros; na especulação contínua de todas as noites, com que Endimião observava os efeitos do planeta mais vizinho à Terra, passou a fábula dos seus amores com a Lua. E porque também os nossos vícios, a nossa fraca virtude e a nossa mesma vida passam como fábula; o amor e complacência de nós mesmos passou na fábula de Narciso; a riqueza sem juizo na fábula de Midas; a cobiça insaciável, na fábula de Tântalo; a inveja do bem alheio, na fábula e abutre de Tício; a inconstância da fortuna mais alta, na fábula e roda de Ixião; o perigo de acertar com o meio da virtude e não declinar aos vícios dos extremos, na fábula de Cila e Caribidis; e finalmente a certeza da morte e incerteza da vida, pendente sempre de um fio, passou e está continuamente passando na fábula das Parcas. Assim envolveram e misturaram os sábios daquele tempo o que há com o que não há e o certo com o fabuloso; para que nem o louvor nos desvaneça,nem a calúnia nos desanime, pois os verdadeiro e o falso, a verdade e a mentira, tudo passa."

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

do p.A.Vieira

- "...e sendo todos iguais e livres por natureza, houve alguns que entraram em pensamento de se fazerem senhores dos outros por violência e o conseguiram. O primeiro que se atreveu a pôr coroa na cabeça foi Membroth, que também com o nome de Nino, ou Belo, deu princípio aos quatro impérios ou monarquias do Mundo. O primeiro foi o dos assírios e Caldeus; e onde está o império dos caldeus? O segundo foi o dos Persas; e onde está o Império Persiano? O terceiro foi o dos Gregos; e onde está o Império Grego? O quarto e maior de todos, foi o dos Romanos; e onde está o Império Romano? Se alguma coisa permanece deste é só o nome: todos passaram, porque tudo passa. Em três famosas visões representou Deus estes mesmos impérios a um rei e a dois profetas. A primeira visão foi a Nabucodonosor na estátua de quatro metais; a segunda a Zacarias em quatro carroças de cavalos de diferentes cores; a terceira a Daniel em um conflito dos quatro ventos principais, que no meio do mar se davam batalha. Pois se todas estas visões eram de Deus e todas representavam os mesmos impérios, porque variou tanto a sabedoria divina as figuras e sobre a primeira da estátua,tão clara e manifesta, acrescentou outras duas tão diversas em tudo? Porque a estátua, na dureza dos metais de que era composta e no mesmo nome de estátua, parece que representava estabilidade e firmeza: e porque nenhum daqueles impérios havia de perseverar firme e estável, mas todos se haviam de mudar sucessivamente e ir passando de umas nações a outras; por isso os tornou a representar na variedade das carroças, na inconstância das rodas e na carreira e velocidade dos cavalos. E porque aqueles impérios correndo mais precipitadamente que à rédea solta, não haviam de parar no mesmo passo, nem por um só momento e sempre se haviam de ir mudando e passando; por isso, finalmente, os representou Deus na cousa mais inquieta, mudável e instável, quais são os ventos e muito mais quando embravecidos e furiosos..."

sair da confusão que armei

Para ver as mensagens com transcrições do padre António Vieira e outras vejam-no na versão do google em português, "Faço tenção".

o blogue faço tenção

Para ver este blogue pesquisem-no na WEB.

domingo, 20 de dezembro de 2009

do p.A.Vieira

"Nos pecados do homem se se ajunta o poder com o apetite, não há honra, não há honestidade, não há estado, nem ainda profissão, por sagrada que seja, que se não empreenda, que se não conquiste, que se não sujeite, que se não descomponha. E nos pecados de ministros, se o poder se ajunta com a ambição, com a soberba, com o ódio, com a vingança, com a inveja, com o respeito, com a adulação, não há lei humana, nem divina, que se não atropele, não há merecimento que se não aniquile, não há incapacidade que se não levante, não há pobreza, nem miséria, nem lágrimas que se não acrescentem, não há injustiça que se não aprove, não há violência, não há crueldade, não há tirania que se não execute. E como estes são os abusos, os excessos e as durezas do poder, justíssimo é que o Juizo do Omnipotente seja duríssimo e que os poderosos(pois assim são poderosos)sejam poderosamente atormentados..."

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"O lugar de um julgador"-do p.A.Vieira

"Antigamente em um lugar destes que é o que cabia? Cabia o doutor com os seus textos e umas poucas de postilas, muito usadas e por isso muito honradas. Cabia mais uma mula mal pensada, se a casa estava muito longe do Limoeiro. Cabiam os filhos honestamente vestidos; mas a pé e com a arte debaixo do braço. Cabia a mulher com poucas joias e as criadas, se passavam da unidade, não chegavam ao plural dos Gregos. Isto é o que cabia naquele lugar antigamente : e feitas boas contas,parece que não podia caber mais. Andaram os anos, o lugar não cresceu e tem mostrado a experiância, que é muito mais sem comparação o que cabe no mesmo lugar. Primeiramente cabem umas casa, ou paços, que os não tinham tão grandes
os condes do outro tempo : cabe uma livraria de Estado, tamanha como a vaticana e talvez com os livros tão fechados como ela os tem : cabe um coche com quatro mulas, cabem pagens, cabem lacaios, cabem escudeiros : cabe a mulher em quarto apartado, com donas, com aias e com todos os outros arremedos de fildalguia : cabem os filhos com cavalos e criados e talvez com o jôgo e com outras mocidades de preço ; cabem as filhas maiores com dotes e casamentos de mais marca, as segundas nos mosteiros com grossas tenças : cabem tapeçarias, cabem baixelas, cabem comendas, cabem benefícios, cabem moios de renda ; e sobretudo cabem umas mãos muito lavadas e uma consciência muito pura e infinitas outras cousas que só na memória e no entendimento não cabem.Não é isto assim?"

do p.A.Vieira

-"No nascimento somos filhos dos nossos pais,na ressureição seremos filhos das nossas obras."

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

As grrandes acções

"As grandes acções não hão mister exórdio: elas por si mesmas ou supõem a atenção ou a conciliam.." (de Quintiliano)

´...e nós o que é que vemos?

..."e nós que é que vemos? Vemos sair da boca daquele homem, assim naqueles trajes, uma voz muito afectada e muito polida e logo começar com muito desgarro, a quê? A motivar desvelos, a acreditar empenhos, a requintar finezas, a lisonjear precipícios, a brilhar auroras, a derreter cristais, a desmaiar jasmins, a toucar primaveras e outras mil indignidades destas."

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

do p.A.Vieira

-"A nuvem tem relâmpago, tem trovão e tem raio : relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração: com o relâmpago alumia, com o trovão assombra, com o raio mata. Mas o raio fere a um, o relâmpago a muitos, o trovão a todos.Assim há-de ser a voz do pregador : - um trovão do céu,que faça tremer e assombre o mundo."

do p.A.Vieira

-"Há de tomar o pregador uma só matéria, há-de defini-la para que se conheça, há-de dividi-la para que se distinga, há-de prová-la com a Escritura, há-de declamá-la com a razão, há-de confirmá-la com o exemplo, há-de amplificá-la com as causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se devem evitar, há-de responder às dúvidas, há-se satisfazer às dificuldades, há de impugnar e refutar com toda a força da eloquência os argumentos contrários e depois disto há-de colher, há-de apertar, há-de concluir, há-de persuadir, há-de acabar."

domingo, 13 de dezembro de 2009

Do padre A.Vieira

..."este último quartel da vida, porque se perderá também? Porque não dará fruto? Porque não terão também os anos o que tem o ano ? O ano tem tempo para as flores e tempo para os frutos. Porque não terá também o seu outono a vida ? As flores, umas caem outra secam, outra murcham, outras leva o vento; aquelas poucas que se pegam ao tronco e se convertem em fruto, só essas são as venturosas, só essas são as discretas, só essas são as que duram, só essas são as que aproveitam, só essas são as que sustentam o mundo."