sexta-feira, 17 de setembro de 2010

do p.A.Vieira - no sermão de Santo Inácio

       -"Jazia Dom Inácio de Loiola malferido de uma bala francesa no sítio de Pamplona; e picado como valente de ter perdido um castelo, fabricava no pensamento outros castelos maiores, pelas medidas de seus espíritos. Já lhe parecia pouca defensa Navarra, pouca muralha os Pirenéus, e pouca conquista França. Considerava-se capitão, e espanhol, e rendido; e a dor lhe trazia à memória, como Roma em Cipião, e Cartago em Aníbal, foram despojos de Espanha: os Cids, os Pelalos, os Viriatos, os Lusos, os Geriões, os Hércules, eram os homens com cujas semelhanças heróicas o animava e inquietava a fama: mais ferido da reputação da pátria que das suas próprias feridas. Cansado de lutar com pensamentos tão vastos, pediu um livro de cavalarias para passar o tempo; mas, oh Providência Divina ! Um livro que só se achou, era das vidas dos santos. Bem pagou depois Santo Inácio em livros o que deveu a este. Mas vede  quanto importa a lição de bons livros. Se o livro fora de cavalarias, sairia Inácio um grande cavaleiro : foi um livro de vidas de santos, saiu um grande santo. Se lera cavalarias, sairia Inácio um cavaleiro da ardente espada: leu vidas de santos, saiu um santo da ardente tocha : Et lucernae ardentes in manibus vestris. Toma Inácio o livro nas mãos, lê-o, ao princípio com dissabor, pouco depois sem fastio, ultimamente com gosto, e dali por diante com fome, com ânsia, com cuidado, com desengano, com devoção com lágrimas."  

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