sábado, 30 de abril de 2011

do p.A.Vieira - do sermao do Santissimo Nome de MAria

"Ouvi um caso verdadeiramente estupendo. Junto aos muros da cidade de Nimega se achava de noite uma donzela de outro povo vizinho, a qual não quis recolher em sua casa outra mulher, que, não só por piedade cristã, mas por estreito parentesco, tinha depois da mãe as segundas obrigações de o fazer. Neste deamparo, só, triste, desesperada, e perdido totalmente o juizo, em vez de invocar a miserável o socorro do Céu,chamou o do Inferno; e no mesmo ponto lhe apareceu o Demónio em hábito de médico forasteiro que por ali passava. Informou-se das causas de sua aflição, e não só lhe prometeu remmédio para o trabalho presente, mas muito melhorada fortuna para o resto da vida, só com condição, que quiaesse ser sua. Aceitou a pobre donzela o miserável contrato, contra o qual porém se ofereceu uma nova dificuldade; porque sabendo o Demónio que ela se chamava Maria, instou que havis de deixar aquele nome, que Ele sobre todos aborrecia. Tinha Maria grande afecto ao mesmo nome, posto que já tão indigna dele: enfim vieram os dous a partido, que deixado o nome inteiro de Maria, ao menos lhe ficasse a primeira letra; e assim se chamou dali por diante Eme. Continuou Eme no serviço e amizade do Demónio, e já se vê qual seria a sua vida. Não era de cristã, mem de criatura racional, mas de tição do Inferno, tao condenada, e sem esperança de salvação, como o mesmo a quem servia. Contudo, eu ainda dão desepero.
Passou um, passaram dous, passaram seis anos, em que suportou Eme o duríssimo cativeiro, o jugo cruel do infernal tirano: mas como sempre consevou aquela meia sílaba do nome de Maria, poato que era uma só letra, ela bastou finalmente para o despojar da presa, e derrubar e vencer."

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