terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

do p.A.Vieira - naquela área..

         Naquelas searas, naquelas vinhas, naqueles olivais, de que se tiram os rendimentos para as igrejas, e seus ministros, aqui é que mais repara o meu temor, e receio que aqui tropecem os cavalos, se embarace o cocheiro, e se descomponham as rodas. O fundamento que tenho para assim o temer e cuidar, é, que quando ouço falar nos vossos provimentos, ou promoções, só se estimam os despachos, e se avaliam os lugares pelo que rendem. A um grão príncipe desta Itália pediu um eclesiástico seu vassalo que lhe fizesse mercê de certa igreja. E quanto rende essa igreja ? perguntou o príncipe. Sereníssimo, respondeu o pretendente, rende oitocentos até mil escudos. Bem está, não é muito o rendimento. E fregueses tem ? tornou  o príncipe a perguntar. E como o pretendente dissesse que não sabia, o despacho com última e severa resolução foi este : E vós sabeis a conta aos escudos que haveis de comer, e não sabeis o número às almas que haveis de curar?  Pois não sois digno de ter igreja, nem de a pretender diante de mim ; ide embora. Oh se todos os que fazem semelhantes provimentos, fizessem este exame ; e se ao menos o fizessem os que os pretendem, e são providos! Por isso guardam os escudos, e não guardam as ovelhas : mercenários, e não pastores ou tosquiadores, que é pior. Estas são as contas que se fazem, sem se fazer conta da que se há-de dar a Deus, quando a pedir do preço do seu sangue. Mas aqueles que só se governam pelo "ardor habendi" , irão arder onde ele os leva. Aqui irá parar a alegria dos bons despachos, e os falsos  parabéns dos que os recebem, tão falsos como os dos que os dão.

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