terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

do p.A.Vieira

-"Porque na estimação do avarento não há outro Deus mais que o dinheiro ; e nele, commo diz o nosso Poeta português, adora mais os cunhos que a cruz. A quarta e última roda é o esquecimento da morte ; mortis oblivio ; porque o avarento não se lembra que tudo que guarda e ajunta, mais tarde ou mais cedo cá há de ficar; e como tem o coração onde tem o tesouro, mais quer entesourar na terra, que depositar no céu. Os dous cavalos que tiram por esta carroça, e os dous jumentos, como lhes chama o santo, são a rapacidade, e a tenacidade ;  porque o avarento com a rapacidade apanha, junta, e rouba quanto pode, e não pode : e com a tenacidade, retém, conserva, e aferrolha tudo de tal arte, que nenhuma cousa lhe sai da mão. Finalmente, o cocheiro que governa esta carroça, estas rodas, e estes dous brutos, já largando as rédeas a um, já estreitando-as a outro, é o apetite insaciável de ter."     

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