domingo, 11 de abril de 2010

Do p.António Vieira - desejavam ser muito rogados

           - " Dous imperadores,que precederam ao império de Trajano, diz o seu panegirista Plínio, que desejavam muito ser rogados e que todos lhes pedissem, só pelo gosto que tinham de dizer - não : Priores principes a singulis rogari, gestiebant, non tam praestandi animo, quam negundi. Mas como estes que ele chama príncipes, verdadeiramente eram tiranos, e mais monstros da natureza humana, que homens, excluído sem controvérsia este escândalo da razão e da humanidade, e começando a nossa questão pelas razões prováveis de duvidar, parece que não é conveniente, nem decente à majestade e autoridade de um rei, que pronuncie de palavra, ou firme com a pena um não. Ou o rei diz não porque não quer, ou porque não pode : se porque não quer, ofende o amor ; se porque não pode, desacredita a grandeza. E se as petições e requerimentos são tais, que se não devem conceder, entendam os pretendentes o não, mas não o ouçam ; seja discurso seu e não resposta ou resolução real. Mais decente negativa é para o governo, e menos descoberta desconsolação para os que requerem, que eles tomem por si o desengano. Desengane-os a dilação, desengane-os o tempo ; e se de dia não cuidam, nem de noute sonham mais que no seu despacho, os mesmos dias e noutes lhes digam, o que se lhes não diz ; e por elas saibam o que não querem entender. Sustentem-se na sua esperança, posta que falsa, e fique sempre inteiro ao príncipe o pundonor de que não negou. Se por este modo se estendem os requerimentos, e se entretêm e multiplicam os que vêm requerer,  isso mesmo é um certo género de grandeza e autoridade haver muitos pretendentes. O que eles gastam e despendem  sustenta a majestade da corte, e também as cortes dos que não são majestades.  Já que pretendem sem merecimento, paguem as custas da sua ambição, e sirva-lhes a eles de castigo, e aos mais de exemplo."           

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