terça-feira, 13 de abril de 2010
do p.A.Vieira - vê um homem aos outros
- " Vê um homem aos outros, e lembra-se claramente das feições do rosto e figura de cada um, e ausente o retrata na imaginação assim como o viu ; mas se se viu no espelho a si mesmo, logo se esquece, nem se pode pintar, ou figurar como é. E donde vem, ou se causa esta diferença tão notável ? Vem do diferente modo com que vemos as cousas no espelho, ou em si mesmas. Em si mesmas vemo-las por espécies directas, que são mais vivas, e mais fortes ; no espelho vemo-las por espècies reflexas , que não têm aquela vida, ou aquela viveza, nem aquela força. E a razão é, porque o reflexo que as rebate no espelho, as enfraquece de tal sorte, que quando chegam à potência, onde se formam as espécies memorativas, por meio das quais nos lembramos, ou estas se não produzem, ou são tão ténues, e quase mortas, que se não pode servir delas a memória, e se segue naturalmente o esquecimento. Logo quem sacrifica o espelho, não só renuncia nele a vista futura, senão também a passada. A futura, porque se não há-de ver, pois não tem espelho : a passada, porque por falta do mesmo espelho não pode renovar na memória, nem suprir no esquecimento o retrato de quando se viu : Et oblitus est, qualis fuerit. Tanto renunciam e dão para sempre a Deus as religiosas de ânimo varonil, que por seu amor e reverência lhe sacrificam a espelho ! "
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