domingo, 11 de abril de 2010

Do p.António Vieira- tão vil é na mentira o sim...

           - " Contra o sofístico destas razões ( que verdadeiramente têm muito de vaidade ) parece que são mais sólidas as do ditame contrário. Tão vil é na mentira o sim, como honrado na verdade o não.  A verdade  (que por isso se pinta despida ) não sabe encobrir, nem fingir, nem enfeitar, nem corar, e muito menos enganar : e a primeira virtude do trono, ou seja da justiça ou da graça, é a verdade. Todo o artifício é cousa mecânica e não nobre, quanto mais real. O sol abranda a cera, e endurece o barro, porque obra conforme a disposição dos sujeitos ; mas em todos e com todos descobertamente ; por isso o calor é inseparável da luz. Importa distinguir o bastão do ceptro. Os estratagemas não são para o despacho ; sejam embora para a campanha, mas não para a corte ; para os inimigos e não para os vassalos. Saibam os pretendentes se podem esperar ou não, para que no fim não desesperem. Quem diz que é arte de não desgostar, não diz nem cuida bem. Melhor é dar um desgosto que muitos. Queixem-se de  que os não satisfizeram ; mas não possam dizer justamente, que os enganaram. Se é dura palavra um não, mais duras são as boas palavras que suspendem e encobrem o mesmo não, até que o descobre o efeito. Quem fez o não tão breve , não quis que se dilatasse."

 

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