sexta-feira, 28 de maio de 2010

do p.A.Vieira - Esses são os poderes...


        - " Esses são os poderes do tempo  sobre o amor. Mas sobre qual amor ? Sobre o amor humano, que é fraco ; sobre o amor humano, que é inconstante ; sobre o amor humano, que não se governa por razão, senão por apetite ; sobre o amor humano, que, ainda quando parece mais fino, é grtsseiro e imperfeito. O amor, a quem remediou, e pôde curar o tempo, bem poderá ser que fosse doença ; mas não é amor. O amor perfeito, e que só merece o nome de amor, vive imortal sobre a esfera da mudança, e não chegam lá as jurisdições do tempo. Nem os anos o diminuem, nem os séculos o enfraquecem, nem as eternidades o cansam :  Omni tempore diligit, qui amicus est : disse nos seus provérbios Salomão da Lei velha : e o Salomão da nova, Santo Agostinho, comentando o mesmo Texto, penetrou o fundo dele com esta admirável sentença : Manifeste declarans amicitiam aeternam esse, si vera est : si autem desierit nunquam vera fuit. Quiz-nos declarar Salomão, diz Agostinho, que o amor que é verdadeiro, tem obrigação de ser eterno ; porque se em algum tempo deixou de ser, nunca foi amor : Si autem desierit, nunquam vera fuit. ´Notável dizer! Em todas os outras cousas o deixar de ser, é sinal de que já foram ; no amor o deixar de ser, é sinal de nunca ter sido. Deixou de ser, pois niuca foi ; deixastes de amar, pois nunca amastes. O amor que não é de todo o tempo, e de todos os tempos, não é amor, nem foi ; porque se chegou a ter fim, nunca teve princípio. É como  a eternidade, que se por impossível tivera fim, não teria sido eternidade : Declarans amicitiam aeternam esse, si vera est. " 

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