sexta-feira, 21 de maio de 2010

do p.A.Vieira - O ouro e os brocados

        - " O ouro e os brocados, de que se vestem as paredes, são objecto vulgar da vista : a harmonia dos coros, suspensão e elevação dos ouvidos : o âmbar e almíscar, e  as outras espécies aromáticas que vaporam  nas caçoulas, até pela ruas rescendem muito ao longe, e convocam pelo olfacto o concurso. É isto Terra ou Céu ? Céu é, mas com muita mistura de Terra. Porque no meio desse culto celestial, exterior e sensível, o desfazem e contradizem também sensivelmente, não só as muitas ofensas que fora dos templos se cometem, mas as públicas irreverências com que dentro neles se  perde o respeito à fé, e ao mesmo Deus. Queres que te diga, Lisboa minha, sem lisonja, uma verdade muito sincera, e que te descubra um engano, de que tua piedade muito se gloria ? Esta tua fé tão liberal, tão rica, tão enfeitada e tão cheirosa, não é fé viva : pois que é ? É fé morta, mas embalsamada. "

Sem comentários:

Enviar um comentário