segunda-feira, 31 de maio de 2010
do p.A.Vieira - O terceiro remédio do amor...
- " O terceiro remédio do amor, é a ingratidão. Assim como os remédios mais eficazes são ordinariamente os mais violentos ; assim a ingratidão é o remédio mais sensitivo do amor, e juntamente o mais efectivo. A virtude que lhe dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão. Diminuir o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam ; mas que a ingratidão mude o amor e o converta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade, e parece que o manda. Que sentença mais justa, que privar do amor a um ingrato ? O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito. Se ponderarmos os efeitos de cada um destes contrários, acharemos que a ingratidão é o mais forte. O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo. De sorte, que o amigo pode ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado : se o deixamos de amar, não é culpa sua, é injustiça nossa ; porém se foi ingrato, não só ficou indigno do mais tíbio amor, mas merecedor de todo o ódio. Finalmente, o tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade. E ferido o amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário