quarta-feira, 17 de março de 2010

do p.A.Vieira - as penas dos ministros

   "Eu não sei como não treme a mão a todos os ministros de pena, e muito mais àqueles que sobre um joelho aos pés do rei recebem os seus oráculos, e os interpretam, e estendem. Eles são os que com um advérbio podem limitar ou ampliar as fortunas ; eles os que com uma cifra podem adiantar direitos, e atrasar preferências ; eles os que com uma palavra podem dar ou tirar peso à balança da justiça ; eles os  que com uma cláusula equívoca ou menos clara, podem deixar duvidoso, e em questão o que  havia de ser certo e efectivo ; eles os que com meter ou não meter um papel, podem chegar a introduzir a quem quiserem, e desviar e excluir a quem não quiserem ; eles, finalmente, os que dão a última forma às resoluções soberanas, de que depende o ser ou não ser de tudo. Todas as penas, como as ervas, têm a sua virtude ; mas as que estão mais chegadas à fonte do poder são as que prevalecem sempre a todas as outras. São por ofício, ou artifício, como as penas da águia, das quais dizem os naturais, que postas entre as penas das outras aves, a todas comem e desfazem."

Sem comentários:

Enviar um comentário