terça-feira, 16 de março de 2010
do p.A.Vieira - "ubi"
-"Ubi ? Onde? Esta circunstância, onde, tem muito que reparar em toda a parte ; mas no reino de Portugal muito mais, porque ainda que seus "Ubis", ou os seus ondes, dentro em si podem compreender-se facilmente, os que tem fora de si, são os mais diversos, os mais distantes e os mais dilatados de todas as monarquias do mundo. Tantos reinos, tantas nações, tantas províncias, tantas cidades, tantas fortalezas, tantas igrejas catedrais, tantas particulares na África, na Ásia, na América, onde põe Portugal vice-reis, onde põe governadores, onde põe generais, onde põe capitães, onde põe justiças, onde põe bispos e arcebispos, onde põe todos os outros ministros da fé, da doutrina, das almas. E quanto juizo, quanta verdade, quanta inteireza, quanta consciência é necessária para considerar e distribuir bem estes onde ; e para ver onde se põe cada um? Se pondes o cobiçoso onde há ocasião de roubar, e o fraco onde há ocasião de defender, e o infiel onde há ocasião de renegar, e o pobre onde há ocasião de desempobrecer ; que há-de ser das conquistas e dos que com tanto e tão honrado sangue as ganharam ? Oh que os sujeirts que se põem nestes lugares são pessoas de grande qualidade e de grande autoridade : fidalgos, senhores, títulos ! Por isso mais. Os mesmos ecos de uns nomes tão grandes em Portugal, parece que estão dizendo onde se hão-de pôr. Um conde ? Onde ? Onde obre proezas dignas de seus antepassados ; onde despenda liberalmente o seu com os soldados e beneméritos, onde peleje, onde defenda, onde vença, onde conquiste, onde faça justiça, onde adiante a fé e a cristandade ; onde se honre a si, e à pátria, e ao príncipe que fez eleição de sua pessoa. E não onde se aproveite e nos arruíne ; onde se enriqueça a si, e deixe pobre o Estado ; nonde perca as vitórias e venha carregado de despojos. Este há-de ser o Onde : Ubi."
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