domingo, 7 de março de 2010

do p.A.Vieira - o meu e teu

       -" E que frieza, ou frialdade é esta do meu e teu ? `É tal frieza e tal frialdade, que não há amor no mundo tão ardente por natureza, e tão intenso por obrigação, que logo não esfrie. Em havendo meu e teu, não há amor de amigo para amigo, nem amor de irmão para irmão, nem amor de filho para pai, nem amor de pai, para filho , nem amor de próximo, por mais religioso que seja, para outro próximo, nem amor do mesmo Deus para Deus. Antes de haver meu e teu, havia amor, porque eu amava-vos a vós e vós a mim : mas tanto que o meu e teu se meteu de permeio, e se atravessou entre nós, logo se acabou o amor ; porque vós já me não amais a mim, senão o meu,  nem eu vos amo a vós, senão o vosso. No princípio do mundo, como gravemente pondera Séneca, porque não havia guerras ? Porque usavam os homens da Terra como do Céu. O Sol, a Lua, as estrelas, e o uso da sua luz é comum a todos, e assim era a Terra no princípio : porém depois que a Terra se dividiu  em diferentes senhores, logo houve guerras e batalhas e se acabou a paz, porque houve meu e teu."

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