terça-feira, 16 de março de 2010
do p.A.Vieira - papel e pena
"Não há cousa mais escrupulosa no mundo que papel e pena. Três dedos com uma pena na mão, é o oficio mais arriscado que tem o governo humano. Aquela Escritura fatal que apareceu a el-rei Baltasar na parede, diz o Texto que a formavam uns dedos como de mão de homem. A estes dedos quem os movia ? Dizem todos os intérpretes com S. Jerónimo, que os movia um anjo. De maneira que quem escrevia era um anjo, e não tinha de homem mais que três dedos. Tão puro como isto há-de ser quem escreve. Três dedos com uma pena podem ter muita razão ; por isso não hão-de ser mais que dedos. Com estes dedos não há-de haver mão, não há-de haver braço, não há-de haver ouvidos, não há-de haver boca, não há-de haver olhos, não há-de haver coração, não há-de haver homem : "Quasi manus hominis". Não há-de haver mão para a dádiva, nem braço para o poder, nem ouvidos para a lisonja, nem olhos para o respeito, nem boca para a promessa, nem coração para o afecto, nem finalmente há-de haver homem ; porque não há-de haver carne nem sangue. A razão disto, é porque se os dedos não forem muito seguros, com quaquer jeito da pena podem fazer grandes danos."
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