sábado, 24 de julho de 2010
do p.A.Vieira
-" O primeiro apólogo, que se escreveu no mundo(que é fábula com significação verdadeira) foi aquele que refere a Sagrada Escritura no capítulo nono dos Juízes. Quiseram (diz ) as árvores fazer um rei que as governasse, e foram oferecer o governo à oliveira, a qual se escusou, dizendo que não queria deixar o seu óleo, com que se ungem os homens, e se alumiam os deuses. Ouvida a escusa, foram à figueira, e também a figueira não quis aceitar, dizendo que os seus figos eram muito doces, e que não queria deixa a sua doçura. Em terceiro lugar foram à vide, a qual disse que as suas uvas comidas eram o sabor, e bebidas a alegria do mundo, e a quem tinha tão rico património, não lhe convinha deixá-lo para se meter em governos. De sorte que assim andava o governo universal das árvores, como de porta em porta, sem haver quem o quisesse. Mas o que eu noto nestas escusas é que todas convieram em uma só razão, e a mesma, que era não querer cada uma deixar os seus frutos. E houve alguém que dissesse, ou propusesse, tal cousa a estas árvores ? Houve alguém que dissesse à oliveira que havia de deixar as suas azeitonas, nem a figueira os seus figos, nem a vide as suas uvas ? Ninguém. Somente lhe disseram e propuseram que quisessem aceitar o governo. Pois se isso foi só o que lhe disseram e ofereceram, e ninguém lhe falou em haverem de deixar os seus frutos ; porque se escusaram todas com os não quererem deixar ? Porque entenderam, sem terem entendimento, que quem aceita o governo de outros, só há-de tratar deles, e não de si ; e que se não deixa totalmente o interesse, a conveniência, a utilidade, e qualquer outro género de bem particular e próprio, não pode tratar do comum."
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