quinta-feira, 21 de outubro de 2010

do p.A.Vieira - no sermão de S. Roque

      -"Mas já que há tantos géneros de laços, porque deseja o zeloso e justiceiro rei, que o laço com que se afogue Judas, seja laço feito da mesa? Porque a mesa é o instrumento natural da vida; e perder a vida pelos instrumentos da vida, é o mais terrível género de morte que se pode imaginar. Formar um laço de cordas, apertar com ele a garganta, fechar a respiração, e matar entre portas a vida, rigor é de morrer trabalhoso, violento, angustiado, terrível; mas alfim é padecer a morte pelos instrumentos da morte: mas assentar-se à mesa para alentar, para sustentar, para recrear a vida, e que o mesmo bocado que meto na boca se me converta em laço na garganta, muito maior rigor, muito maior violência, muito maior tormento, muito maior horror é este de morte, porque é perder a vida pelos instrumentos da vida. Perder a vida pelos instrumentos da vida, e converter-se a mesa em laço, é morrer morte traidora. O bocado que me mata, é traidor, porque com pretexto de me sustentar a vida, ma tira."

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