quarta-feira, 13 de outubro de 2010

do p.A.Vieira - no sermão de S. Roque

       -"...e a sarça ardia, e não se queimava. Pois se o fogo é um elemento tão activo, tão consumidor, tão voraz, porque não queimava a sarça? Portava-se a si o fogo, não pelo que era, senão pelo a que vinha. Vinha Deus naquele fogo a libertar os filhos de Israel, como ele mesmo disse: Descendi et libereum eum. E o fogo libertador sustenta-se de si mesmo, não gasta. Fogo em que Deus vem abrasar, como o do sacrifício de Abel, consome; mas fogo em que Deus vem a libertar, como o da sarça de Moisés, não gasta, sustenta-se de si mesmo. Bem o vemos no mesmo libertador, que se sustenta do seu, que era, e não do nosso, sendo que o seu e o nosso , tudo é seu. E para que mais estimemos e agradeçamos esta moderação, notemos que os reis da Terra são como o rei dos elementos, o fogo. Todos os outros elementos, temo-los em casa, sem nos fazerem gastos: a terra, a água, e o ar, não nos gastam nada; o fogo ninguém o teve  em sua casa, senão custando-lhe. Assim são os reis da Terra. E se não bastam os exemplos passados dos que tão abrasados deixaram Portugal, leia-se da Escritura, o que Deus disse por Samuel ao povo, quando teimaram em pedir rei. E que sendo esta a qualidade e condição de um e outro fogo, que não tome para si nada o milagroso que vemos! Que se sustente de si mesmo! É sem dúvida porque está Deus naquele fogo e está nele como libertador: Descendi ut liberem eum." 

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