quarta-feira, 27 de outubro de 2010

do p.A.Vieira - no sermão de Santo Agostinho

     -"Diz Deus pelo profeta Isaías: se os vossos pecados forem vermelhos como a grã, fazei o que vos eu mando, e serão brancos como a neve, Este texto tem dado grande trabalho aos expositores, e todos concordam em que falou aqui o profeta pela figura que os retóricos chama metonímia, tomando a qualidade  pela pessoa, e o pecado pelo pecador; porque o pecador pode deixar de ser pecador e ser justo, e o pecado nunca pode deixar de ser pecado. Mas deverão advertir que o profeta não fala da substância do pecado, senão dos acidentes, quais são as cores. Não diz que os pecados hão-de deixar de ser pecados, senão que hão-de mudar a cor, e que sendo ou tendo sido vermelhos como a grã, serão brancos como a neve: Si fuerint peccata vestra ut coccinum, quasi nix dealbabuntur. E mudando os mesmos pecados a cor, e vestindo-se de outros acidentes, bem podem ter debaixo deles contrários efeitos, e necessariamente os hão-de causar, quando forem vistos. Tais foram os pecados de Agostinho. Enquanto cometidos tinham uma cor, e enquanto confessados tiveram outra; e por isso enquanto cometidos, como ele mesmo diz, causavam escândalo, e enquanto confessados, causam exemplo. Fez Agostinho exemplo dos seus pecados, publicando-os, sendo que o efeito natural  dos pecados públicos é causar escândalo; mas assim como o hipócrita escandaliza o mundo com a ostentação de virtudes, assim Agostinho edificou a Igreja com a publicação de pecados."

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