quarta-feira, 27 de outubro de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de Santo Agostinho
-"Não há cousa mais natural no homem, que esconder e encobrir seus pecados. Naquela famosa disputa que os três amigos de Job tiveram com ele, todo o seu intento ou teima, foi que todos os trabalhos que padecia Job eram em pena de seus pecados, defendendo pelo contrário Job, que padecia inocente. A este fim fez um grande aranzel de todas suas virtudes, e boas obras, concluindo que se tivera pecados, haviam de ser publicos e sabidos porque ele nunca encobrira pecados: Si abscondi, quasi homo, peccatum meum. Nestas palavras tem grande mistério, e é digna de grande reparo aquela exclusiva: Quasi homo: não só diz que não escondeu seus pecados, senão que os não escondeu como homem. Para qualificar Job sua inocência, bastava dizer que não tinha pecados; para provar que os não tinha com o testemunho público, bastava dizer que nunca os escondera: pois porque acrescenta que os não escondeu como homem: Si abscondi, quasi homo, peccatum meum? Porque não há cousa mais natural ao homem, que esconder e encobrir seus pecados. O pecado é malícia ou fragilidade: o esconder o pecado é natureza. O primeiro homem que pecou foi Adão. E qual foi o primeiro efeito do primeiro pecado? Esconder-se e encobrir-se. Não havia então no mundo outros olhos de que Adão se houvesse de esconder e encobrir, senão os olhos de Deus, e até dos olhos de Deus se quis esconder e encobrir, tanto que pecou. Quando Tamar se foi encontrar com Judas, primeiro fundador e cabeça do Tribo real, do qual concebeu a Farez e Zarão, diz o Texto sagrado, que vendo-a Judas, suspeitou que era mulher de mau trato: Suspicatus est esse meretricem. E porquê, ou donde o coligiu? Operuerat enim vultum suum, ne agnosceretur: porque levava coberto o rosto para não ser conhecida. Vejam lá as tapadas as consequências que descobrem, quando assim se cobrem."
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