sábado, 27 de novembro de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de S. Lucas
-" Estando enfermo S.Francisco de Borja, no tempo em que era duque, tomou-lhe o pulso o médico e disse : que me dará Vossa Excelência, se amanhã lhe pedir as alvíssaras de estar llivre da febre ? Estava no aposento um aparador com muitas peças ricas de prata, e respondeu o duque que daquela baixela escolhesse o que lhe parecesse melhor : e escolheu a maior de todas que era um grande prato. Tornou ao outro dia o médico, tomou o pulso, e equivocando como castelhano na palavra Plato, disse : Amicus Plato, sed magis amica veritas : vossa excelência ainda tem febre. Não refere o historiador o que respondeu o duque ; mas eu lhe não dera então o prato, senão a metade da baiaxela : e se acrescentara quie a febre tinha degenerado em maligna, lha dera toda. Maior acção que a deste meu pensamento veremos depois. Em dous casos obrará culpavelmente a inteireza e verdade do médico: ou na aplicação respeitosa dos remédios de que acabamos de falar, ou no silêncio e dissimulação do perigo, de que agora falaremos. Uma cousaé a doença que ameaça a saúde temporal, outra a que pode arriscar a eterna : a primeira pertence à cura da enfermidade, a segunda ao desengano da morte, E quantos médicos ou por falta de valor, ou com sobeja e mal entendida piedade, por não desanimar os enfermos, e por não desconsolar os vivos, são causa de que se condenem os mortos ? Contra a enfermidade peca-se na cura não se lhe aplicando os remédios eficazes, posto que duros. E contra o enfermo, quando a doença é mortal, peca-se muito mais gravemente na dissimulação, não o desenganando logo do seu perigo."
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