domingo, 21 de novembro de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de Santa Teresa
-" ...mandou o rei os seus soldados e foram: agora chamou os seus convidados e não vieram. Eu lhes perdoo a descortesia pelo exemplo. Se os vassalos hão-de faltar ao príncipe, antes seja na mesa que na campanha. Vendo o rei que os convidados não queriam vir, mandou segundo recado, mas por outros criados, e não pelos mesmos: Misit alios servos. Não é nova razão de estado nos reis, para melhorar vontades, mudar ministros. Mas a razão que aqui teve o rei, a meu ver, foi ainda mais fácil e mais achada. Mandou a segunda vez outros criados, porque é bem que se reparta o trabalho, e que vão todos. Se os segundos descansaram, enquanto foram os primeiros, bem é que descansem os primeiros, e que vão agora os segundos. Assim que, mudar o rei os criados, não é condenar os talentos, é repartir os trabalhos. Se os primeiros tiveram ruim sucesso, não o tiveram melhor os segundos, que nem sempre com a mudança se consegue a melhoria. Os primeiros acharam más vontades : Notebant venire: os segundos experimentaram más obras: Occidrunt eos. Quer dizer, que foram tão descomedidos alguns dos convidados, que não só afrontaram de palavra aos criados do rei, mas chegaram a lhe pôr as mãos e tirar as vidas. Há maior ingratidão? Há maior descortesia? Há maior atrevimento de vassalos? Que faria o rei neste caso? Diz o Texto, que mandou logo seus exércitos a executar um exemplar castigo não só nas pessoas, ou corpos dos rebeldes, senão na mesma cidade, onde viviam, da qual não ficaram mais que as cinzas, para memória ou esquecimento eterno de tal ousadia. Assim o fez o rei, e assim o hâo-de fazer os reis. Quem hoje se atreveu ao criado, amanhã se atreverá ao senhor."
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