quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de Nossa Senhora do Carmo
-"Isto que disse Séneca, falando dos benefícios, corre igualmente, e muito mais em todas as outras acções ou grandezas, em que os pais se vêem vencidos dos filhos. Ouçamos a outro filósofo, que melhor ainda que Séneca, conheceu os afectos naturais, e não só em mais harmonioso estilo, mas com mais profunda especulação que todos, penetrou a anatomia do coração humano. Faz paralelo Ovídio entre os dous primeiros Césares, Júlio e Augusto aquele pai, e este filho; e depois de assentar que a maior obra de Júlio César foi ter um tal filho como Augusto: Nec enim de Caesaris actis ullum maius opus, quam quod pater extitit hujus. Supõe com a comum opinião de Roma, que um cometa que na morte de Júlio César apareceu, era a alma do mesmo Júlio colocada entre os deuses como um deles. E no meio daquela imaginada bem-aventurança, qual vos parece que seria a maior glória de um homem que nesta vida tinha logrado todas as que pode dar o mundo? Diz o mesmo Ovídio (tão falso na suposição como poeta, mas tão certo no discurso como filósofo) que o que fazia lá de cima Júlio César era olhar para o seu filho Augusto, e que considerando as grandezas do mesmo filho, e reconhecendo e confessando, que eram maiores que as suas, o seu maior gosto e a sua maior glória era ver-se vencido dele: Natique videns benefacta, fatetur esse suis maiora, et vinci gaudet ab illo."
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