quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

do p.A.Vieira - no sermão de Santa Catarina

-" Tão necessário é ao intrépido e temeroso of'icio da artilharia (que tudo isto compreende), o patrocínio de Santa Bárbara na terra. E passando da terra ao mar, bem se deixa ver quanto mais importante será, e quanto mais admirável e milagroso, defendendo aos que pelejam com os mesmos instrumentos de fogo, metidos em uma lenho, e sobre as ondas. Averiguada conclusão é entre os mestres de uma e outra milícia, que comparada a da terra, com a do mar, esta é muito mais trabalhosa e perigosa. Na terra peleja contra vós um elemento, no mar todos quatro : na terra tendes por onde vos retirar, no navio estais preso, e não tendes outra retirada que lançando-vos ao mesmo mar. Na terra ajudam uns esquadrões a outros esquadrões, e uns terços a outros terços, no mar estais com os companheiros à vista, e nem eles muitas vezes vos podem socorrer a vós nem vós a eles. E quanto ao exercício da artilharia, na terra borneais a vossa peça coberta de um parapeito de pedra de cinco pés, ou de uma trincheira de faxina de dezoito, no mar detrás de uma tábua de três dedos. Na terra corre a artilharia sobre uma esplanada firme e segura, no mar sobre um convés sempre inquieto e também inquieto da parte contrária o ponto a que se nivela o tiro. Os Gregos chamaram à peça de artilharia bombarda pelo boato, os Latinos tormentum, pelo que atormenta o corpo oposto que fere: eu na terra chamara-lhe tormento, e no mar tormenta : Ignis, et sulphur, et spiritus procelarum. Grande ciência geométrica é necessária pora entre dous pontos inconstantes tirar uma linha certamente recta, quel há-de seguir a bala para se empregar com efeito. Mas tudo isto pode fazer o sábio artilheiro náutico com maiores estragos do inimigo, dos que acima referimos, conseguindo com um só tiro, por ser na mar, o que não pode suceder na terra. "

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