quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de Santa Catarina
-" Das víboras não só se tira veneno, semão também triaga. E que cousa trouxe ao mundo a pólvora Um desengano universal, de que nenhum homem se deve jjá fiar das suas próprias forças? Antigamente havia Aquiles, havia Hércules, havia Sansões: depois que a póvora veio ao mundo, acabou-se a valentia dos braços. Um pigmeu com duas onças de pólvora pode derrubar o maior gigante. Que fundamento cuidais teve a filosofia simbólica das fábulas, para fingir que os gigantes fizeram guerra ao Céu, e quiseram apear de seu trono a Júpiter, senão porque entenderam e quiseram declarar aqueles sábios, que os homens que se fiam em suas grandes forças, não temem a Deus , nem O veneram como se não dependeram d'Ele. Ouvi a arrogância sacrílega e blasfema com que falava um destes chamado Mezêncio: Dextra mihi Deus, et telum, quod missile libro : O meu Deus é o meu braço e a minha lança. Por certo, soberbíssimo capitão, que não havieis de falar tão confiadamente, se fora em tempo que o menor sodadinho do exército contrário, vos pudera responder com uma boca de fogo. Este é pois o desengano que trouxe ao mundo a pólvora, para que todo o homem, e muito mais os que vivem na guerra e da guerra, se persuadam que só Deus lhe pode conservar a vida, e não o seu braço, nem a sua espada. Assim o dizia David, aquele soldado tão esforçado e tão forçoso, que com as mãos desarmadas escalava ursos e afogava leões: Gladius meus non salvabit me."
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