quarta-feira, 18 de agosto de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de Santo António
-" Toma um homem do mar um anzol, ata-lhe um pedaço de pano cortado e aberto em duas ou três pontas, lança-o por um cabo delgado até tocar na água, e em o vendo o peixe, arremete cego a ele e fica preso, e boqueando até que assim suspenso no ar, ou lançado ano convés, acaba de morrer. Pode haver maior ignorância e mais rematada cegueira que esta ? Enganado por uma retalho de pano, perder a vida ? Dir-me -eis que o mesmo fazem os homens. Não vo-lo nego, Dá um exército batalha contra outro exército, metem-se os homens pelas pontas dos piques, dos chuços e das espadas, e porquê ? Porque houve quem os engodou, e lhes fez isca com dous retalhos de pano. A vaidade entre os vícios é o pescador mais astuto, e que mais facilmente engana os homens. E que faz a vaidade ? Põe por isca nas pontas desses piques, desses chuços, e dessas espadas dous retalhos de pano, ou branco que se chama hábito de Malta, ou verde , que se chama de Avis, ou vermelho, que se chama de Cristo e de Santiago ; e os homens por chegarem a passar esse retalho de pano ao peito, não reparam em tragar e engolir o ferro. E depois disso que sucede ? O mesmo que a vós. O que engoliu o ferro, ou ali, ou noutra ocasião ficou morto : e os mesmos retalhos de pano tornaram outra vez ao anzol para pescar outros. Por este exemplo vos concedo, peixes, que os homens fazem o mesmo que vós, posto que me parece, que não foi este o fundamento da vossa resposta ou escusa, porque cá no Maranhão ainda que se derrame tanto sangue, não há exércitos, nem esta ambição de hábitos."
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