segunda-feira, 23 de agosto de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de S.João Baptista
-" Cum regibus, qui aedificant solitudines : Reis que edificam desertos ! Se dissera reis que edificam palácios, bem estava ; mas reis que edificam desertos ! Os desertos edificam-se ? Antes desfazendo edifícios é que se fazem desertos. Pois que reis são estes, que trocam os termos à arquitectura ? Que reis são estes que edificam desertos ? São aqueles reis (diz S.Gregório Papa) em cujos paços reais de tal maneira se contemporiza com a vaidade da Terra, que se trata principalmente da verdade do Céu : e paços onde se serve a Deus como nos ermos, não são paços, são desertos : Qui aedificant sibi solitudines. Bem dito, que edificam : porque há duas maneiras de edificar ; edificar por edifício e edificar por edificação. O edifício faz dos desertos palácios ; a edificação faz dos palácios desertos. Um paço onde se serve a Deus, é um deserto edificado. Paço onde só Deus se serve e o mundo só se contemporiza : onde a clausura compete com a das religiões ; onde as galas são dissimulações do cilício ; onde a licença do galanteio, a liberdade dos saraus, e outras mal entendidas grandezas são exercícios de espírito ; onde sair do Paço para o noviciado, mais é mudar de casa, que de vida ; este ermo cortesão não lhe chamem paço, chamem-lhe deserto : Qui aedificant solitudines. Lá disse Sócrates do imperador Teodósio II, que fora tão religioso príncipe, e tão reformador da casa real, que convertera o paço em mosteiro."
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