sexta-feira, 20 de agosto de 2010
do p.A.Vieira - no sermão de Santo António
-" Pouco era se o comer do alheio tivera só o alívio do trabalho de o cavar, e suar, mas dizem que é tão gostoso e saboroso, que é noca e muito maior maravilha haver quem se abstivesse dele. Se o disseram os mesmos ladrões, eu os não crera, como apaixonados do ofício, e subornados da própria inclinação. Mas é dito e sentença do Espírito Santo : Aquae furtivae dulciores sunt, et panis absconditus suavior. A água furtada é mais doce, e o pão que se come às escondidas, mais suave. O que me admira nestas palavras se deve admirar a todos é, que para decifrar o grande sabor do alheio e do furtado, se ponha a comparação em pão e água. A água não tem sabor, e se tem sabor, não é boa água ; o sabor do pão também é tão pouco, que, se não se acompanha ou engana com outro, só a muita fome o pode fazer tolerável : enfim, sustentar-se um homem com pão e água, não é comer, é jejuar, e o mais estreito e rigoroso jejum."
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