segunda-feira, 9 de maio de 2011

do p.A.Vieira - no sermão de Nossa Senhora do Ó

" O bem (replicará algum filósofo). o bem que é o objecto da vontade, assim como tem diferentes tempos, assim causa na mesma vontade diferentes afectos. Porque o bem, ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto: se é passado, causa saudade; se é futuro causa desejo. E como o bem, e sumo bem, objecto dos afectos da Senhora, que era o Filho único de Deus, e seu, não só o tinha presente, senão mais que presente, porque o tinha dentro em si mesma; parece que antes havia de causar em sau coraçjão júbilos de gosto, senão ansias, nem desejos? Quem discorre desta sorte, ainda não tem entendido que a presença para ser presença, há-de ter alguma cousa de ausência. O objecto da vista, para se poder ver, há-de ser presente; mas se está pegado e unido à mesma potència, é como se estivera ausente: há-de estar apartado dos ollhos, para se poder ver. Assim a presença para ser presença, não há-se passara a ser íntima, nem há-de estar totalmente unida, senão de algum modo distante. É a queixa de Narciso, com verdadeira razão em história fabulosa: Quod cupio mecum est; inopem me copia fecit: o que desejo, tenho-o em mim; e porque o tenho em mim, careço do que tenho. Pois que remédio: Votum in amante novum: o remédio é um desejo novo, que nunca desejou quem amasse. E que desejo é este? Vellem quod amamus abesse: desejar o que o que amo se ausente, e se aparte de mim. Tal era o desejo da Senhora, e tal a razão so seu desejo. Carecia do mesmo bem que tinha, porque o tinha dentro de si. Por isso suspirava e desejava com ânsia vê-lo já fora: e esta era a causa dos seus OO."

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