segunda-feira, 23 de maio de 2011

do p.A.Vieira - no sermão segundo

"O pão e o cuidade são duas cousas muito encontradass. O pão sustenta a vida: os cuidados a afligem, a diminuem, a tiram. E que partido pode estar melhor ao homem, que dar-lhe Deus a ele o pão e tomar para si o cuidado? Jacta super Dominum curam tuam, et ipse te enutriet. Quer Deus que o pão nos saiba a pão; porque o que se come com cuidados, tem outro sabor, e causa muito diferentes humores. Na parábola do semeador compara Cristo as espinhas aos cuidados, e diz que as espinhas que nasceram juntamente com o trigo o afogaram: Et simul exortae spinae suffocaverunt illud. O que aconteceu aqui ao trigo, lhe sucede também depois que é pão; porque a terra e o homem ambos são terra. O pão cria sangue, e a as espinhas tiram-no; e o pior é que o não deixam criar. Assim como ao pão semeado o afogam as espinhas, assim ao pão comido o não deixam digerir os cuidados. Por isso nos tira Dristo o cuidado quando nos dá o pão, não só para que o comamos, senão , também para que nos preste. A causa natural de se nutrirem melhor, e terem menos doenças os animais, é porque comem sem cuidado. Assim o notou Plínio: o qual diz no mesmo capítulo, que é cousa ridícula cuidarem os homens que sendo Deus sumamente superior, tenha cuidado deles: Irridendum vero agere curam rerum humanarum illud quidquid es summum. Falou como gentio sem fé. Mas em nós que a temos, e cremos o contrário, quem não terá por verdadeiramente ridículo o cuidado que fiamos mais do nosso que do de Deus? o Sol nasce cada dia, e ninguém desconfiou de que a sua luz se acabe hoje, porque sabe que há-de tornar amanhã. Pois assim como nos deitamos seguros à noite, sem que nos tire o sono este cuidado, assim no-lo não deve tirar o anoitecer sem pão; porque o mesmo Deus que cada dia nos dá o Sol, nos dará o pão cada dia."

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