terça-feira, 24 de maio de 2011

do p.A.Vieira - no sermao quarto

"Não basta que as cousas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chhyhamam autoridades, porque o autor é o que lhes dá o crédito, e lhes concilia o respeito. As proposições filosóficas, para serem axiomas, hãode ser de Aristóteles: as médicas, para serem aforismos, hão de ser de Hipócrates: as geométricas, para serem teoremas, hão-de ser de Euclides. Tanto depende o que se diz da autoridade de quem o diz. Dizer-se que a pintura é de Apeles, ou a estátua de Fídias, basta para que a estátua seja imortal, e a pintura não tenha preço. Mas esse valor e essa imortalidade a quem se deve? Mais ao nome que ao pincel de Apeles; mais à fama, que à lima de Fídias. E o mesmo que sucede ao pincel, e à lima, é o que experimentam igualmente a a voz e a pena. Se o que diz é Demóstenes, tudo é eloquência; se o que escreve é Tácito, tudo é política: se o que discorre é Séneca, tudo é sentença. Talvez acertou a dizer o rústico, o que tinha dito Salomão; mas no rústico não merece ouvidos, em Salomão é oráculo. De sorte, como dizia, que não basta que as cousas que se dizem sejam grandes, se quem as diz é pequeno. Elas hão-de ser grandes, e o autor também grande."

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