segunda-feira, 13 de junho de 2011
do p.A.Vieira - no sermão decimo oitavo
"Trunfante sobre esta infernal vitoria estava uma noite dormindo, o que tao poco vigilante pastor era do seu rebanho, quando arrebatado em visao se achou subiTamente no meio de um rio largo, profundo, escuro e furioso, cuja corrente a espaços por penhascos e rochas talhadas se despenhava estrondosa e medonhamente. Aqui andavam nadando, ou mais verdadeiramente naufragando grande multidao de homens e mulheres de todos os estados: uns que soçobrados das ondas se afogavam, e iam logo a pique: outros que mortos ja´ de muitos dias, saiam acima aboiados em horrendas figuras: outros que arrebatados da corrente, eram arremessados com furia nos penhascos, onde se espedaçavam: outros que lutavam com toda a força e grandes ansias com o peso do impeto das aguas: e outros que ao som delas, onde mais mansamente corriam, se deixavam levar brandamente: e este era o estado mais perigoso, porque quase sem se sentir se achavam perdidos, sendo finalmente muito raros os que com grandissimo trabalho chegavam `a outra banda da ribeira, e todos despidos. No meio desta afliçao, ja´ desmaiado, levantou o bispo os olhos ao Ceu, e viu que `a mao direita havia uma formosa ponte, que atravessava o rio de parte a parte, pela qual caminavam seguros outro grande concurso de gente, homens, mulheres, meninos, todos alegres e cantando. E como advertisse que diante os ia guiando uma pessoa veneravel, e pelo habito branco e manto preto reconhecesse que era o mesmo pregador, que ele perseguia: Valei-me, Santo, que ja´ vos confesso por tal, disse a grandes brados: Valei-me que me afogo. Pois afoga-te, e chama agora pelos teus pensamentos subidos, que te subam `a ponte. Assim lhe puderadizer, e com muita razao, o pregador das vulgaridades. Mas como os Santos se vigam fazendo bem a quem lhes faz mal, ele foi o que o subiu milagrosamente, e o introduziu na ponte com os demais."
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