" O primeiro efeito ou consequência da necessidade, é o desprezo da honra, o segundo a destruição da virtude. E ponho em segundo lugar a destruição da virtude; porque o muro da virtude é a honra, e derrubado este muro, a virtude que ele defendia, facilmente se rende. Quem se não envergonha dos homens que vê, facilmente perde o respeito a Deus, que não vê. Os romanos, para a emulação, de tal sorte edificaram os templos da Honra e da Virtude, que pelo da Virtude se entrava ao da Honra: e o demónio, para a tentação, primeiro bate o da Honra, para derrubar o da Virtude. Por isso sendo todo o pecado ofensa de Deus e crime de lesa- majestade divina, introduziu o mesmo demónio no mundo, que alguns pecados não fossem infames, para que tirado o temor da desonra, ficasse facilitado o precipício da culpa. Aberta pois a primeira brecha no muro da honra, apenas se achha virtude tão constante, que sitiada da necessidade e apertada da fome, pela triste condição somente de ter com que sustentar a vida, não renda a consciência e a alma a tão infame partido. Esta é a razão conhecida até dos gentios, porque Virgílio, quando descreveu o pórtico e entrada do inferno, adornado feiamente daqueles monstros horrendos, colocou também entre eles a Pobreza e a Fome:
Malesuada Fames et turpis Egestas.
À Fome chamou malesuada e à pobreza "turpis"; porque não há vício nem maldade, que a fome não persuada nem torpeza ou infâmia, que a necessidade e pobreza não facilite."
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