domingo, 26 de junho de 2011

do p.A.Vieira - no sermão vigésimo sétimo

"Já se depois de chegados olharmos para estes miseráveis, e para os que se chamam seus senhores: o que se viu nos dous estados de Job, é o que aqui representa a fortuna, pondo juntas a felicidade e a miséria no mesmo teatro. Os senhores poucos, e os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome; os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros; os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em pé apontando para o açoute, como estátuas de soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás como imagens vilíssimas da servidão, e espectáculos da extrema miséria. Oh Deus ! Quantas graças devemos à fé, que nos destes, porque ela só nos cativa o entendimento, para que à vista destas desigualdades, reconheçamos contudo vossa justiça e providência. Estes homens não são filhos do mesmo Adão e da mesma Eva ? Estas almas não foram esgatadas com o sangue do mesmo Cristo ? Estes corpos não nascem e morrem, como os nossos ? Não rspiram com o mesmo ar ? Não os cobre a mesmo céu ? Não os aquenta o mesmo Sol ? Que estrela é logo aquela que os domina, tão triste, tão inimiga, tão cruel ?

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