sexta-feira, 24 de junho de 2011

do p.A.Vieira - no sermão vigésimo terceiro

"Só estranhará o nome de pobreza nos reis, quem não sabe, que os reis são mais pobres que os vassalos. Não é mais pobre quem tem menos, senão quem necessita de mais. E ninguém tem mais necessidade, nem maiores necessidades, que os reis. Necessidade de fabricar armadas, necessidade de fornecer exércitos, necessidade de fortificar praças e presidiar fortalezas, necessidade de salariar ministros nos reinos próprios, necessidade de manter e autorizar embaixadores nos estranhos , necessidade de sustentar com decência, aparato e magnificência real a própria majestade, e mil necessidades outras públicas e ocultas, das quais pedia o mesmo rei a Deus o livrasse: De necessitatibus meis erue me: e cercada, antes oprimida de tantas e tão forçosas necessidades a falsa potência e verdadeira pobreza dos reis, vede a quantas quebras de consciência e a quantas fraquezas de virtude estará exposta: Infirmata est in paupertate virtus mea? Fraqueza nos mesmos tributos e susídios necessários, tolerando que carreguem sobre os pequenos e miseráveis e fiquem isentos os grandes: fraqueza nas doações inoficiosas e indevidas, não se pagando no mesmo tempo, o que se deve aos legítimos acredores: fraqueza nas chamadas graças feitas prodigamente aos que a logram de perto, esquecidos os que servem e trabalham ao longe: fraqueza na observância e dissimulação das leis com os poderosos: fraqueza na igualdade da justiça: fraqueza no verdadeiro e desinteressado exame das causas: fraqueza na atenção ao luxo e regalo, para que tudo sobeja: fraqueza no descuido da conservação do que se perde, para que tudo falta: e tantas outras fraquezaas de virtude que ainda nos reis, que parecem timoratos, mais se podem chorar, que dizer."

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